De Napoleão a Goethe, muitos famosos acreditam na reencarnação
A reencarnação é uma crença milenar
VISÃO GREGA - No Ocidente, vários filósofos gregos trabalharam com a idéia da reencarnação, a começar por Pitágoras. Ele afirmava ter vivido antes como guerreiro troiano, comerciante, agricultor e prostituta. Pitágoras aceitava a idéia de que um humano reencarnasse como animal, e por isso impediu um homem de surrar um cachorro: o filósofo alegou que havia reconhecido a alma de um amigo no animal ao ouvi-lo ganir.
Platão defendia que a alma é imortal, antecede o nascimento e reencarna diversas vezes. Cada alma escolheria sua próxima vida, a partir de suas experiências nas vidas anteriores. Em sua obra Fedro, ele apresentou uma curiosa classificação em nove níveis de virtuosidade para a jornada da alma. Em vidas sucessivas, os seres transitariam por esses níveis até atingir um grau evolutivo capaz de levá-los a um reino celestial. No nível mais baixo estariam os tiranos. No quarto, os médicos e atletas. No terceiro, os políticos. No segundo, os guerreiros e reis virtuosos. Os filósofos, artistas e músicos ocupavam o topo da escala.
Discípulo de Platão, Aristóteles inicialmente adotou as idéias do mestre. Depois passou a opor-se aos conceitos de imortalidade e de reencarnação. Essa e outras concepções fizeram dele o precursor do materialismo ocidental vigente até hoje, o que não impediu que grupos de crentes na reencarnação se manifestassem desde então neste lado do mundo.
Um de seus redutos foi o cristianismo primitivo. O influente teólogo e escritor alexandrino Orígenes (185 d.C. - 254 d.C.), por exemplo, aceitava a reencarnação sem meias palavras. Num de seus textos, ele disse: "Portanto, todos os que descem à Terra, de acordo com seus merecimentos ou com a posição que ocuparam nela, recebem ordens para nascer neste mundo, em um local diferente, ou em outra nação, ou numa profissão diferente, ou com doenças diversas, ou como descendentes de pais mais ou menos religiosos ou pios, de modo que às vezes pode acontecer de um israelita retornar em pleno Egito e de um egípcio nascer na Judéia."
No ano 400, o papa Anastácio condenou Orígenes por suas "opiniões cheias de blasfêmias". Isso, porém, não bastou, e uma alternativa mais radical foi tomada no século 6: o Concílio de Constantinopla excomungou o teólogo e todos os que partilhavam a sua idéia de "monstruosa restauração".
A HERESIA DAS VIDAS SUCESSIVAS - Mas as idéias reencarnacionistas continuaram a encontrar abrigo em numerosas seitas cristãs. Uma delas, a dos cátaros ("purificados"), conquistou o sul da França no século 11. Para os cátaros, as almas humanas eram espíritos caídos e as encarnações serviam-lhes como prova e expiação - existências boas davam direito a um corpo capaz de levar o ser a uma elevação ainda maior, enquanto existências ruins eram refletidas em um organismo doente e destinado a passar por outras dificuldades.
O tema voltaria à tona no Ocidente na segunda metade do século 19, época do florescimento do interesse por assuntos envolvendo espíritos. Em 1857, Allan Kardec lançou a pedra fundamental do espiritismo, O Livro dos Espíritos. Em 1875, 18 anos depois, Helena Blavatsky fundou em Nova York, nos Estados Unidos, a Sociedade Teosófica, que atraiu considerável interesse a partir de um ideário que incluía os conceitos orientais de carma e de reencarnação.
Em 1882, foi criada na Inglaterra a Sociedade de Pesquisa Psíquica, reunião de importantes intelectuais da época para estudar os fenômenos paranormais. Foi a senha para o início do interesse científico pelo assunto.
O interesse pela reencarnação, no entanto, somente viria a despertar uma atenção maior a partir do início da segunda metade do século passado, com a divulgação de experiências de regressão sob hipnose que levariam os pacientes a descrever detalhes de vidas passadas.
Alguns anos depois, Ian Stevenson publicava o seu primeiro estudo na área, e a partir daí a reencarnação deixou de ser encarada como um tema exclusivo do mundo religioso.
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