Os ignorantes, e deles há muitos, ficam cheios de dúvida e de inquietação quando ouvem falar dos fenómenos espíritas. A crer neles, a face do mundo está transtornada, a intimidade do coração, dos sentimentos, a virgindade do pensamento são lançados através do mundo e entregues à mercê de qualquer um. O mundo, com efeito, estaria singularmente mudado, e a vida privada não teria mais abrigo atrás da personalidade de cada um, se todos os homens pudessem ler no espírito uns dos outros.
Jesus tinha razão em dizer: "Meu reino não é deste mundo," o que significa também que neste mundo as coisas não se passam como em seu reino. O Espiritismo que, em tudo e por tudo, é o espiritualismo do cristianismo, pode igualmente dizer aos ambiciosos e aos terroristas ignorantes, que seu grande objetivo não é dar pedaços de ouro a um, de entregar a consciência de um ser fraco à vontade de um ser mais forte, e de ligar juntos a força e a fraqueza num duelo eterno inevitável e censurado; não. Se o Espiritismo proporciona gozos, são os da calma, da esperança e da fé; se adverte algumas vezes por pressentimentos, ou pela visão adormecida ou desperta, é que os Espíritos sabem perfeitamente que um fato seguro e particular não transtornará a superfície do globo. De resto, se se observa a marcha dos fenômenos, o mal tem aí uma parte muito mínima. A ciência funesta parece relegada nos livros velhos dos velhos alquimistas, e se Cagliostro retornasse isso não seria certamente armado da varinha mágica ou da garrafa encantada que ele aparecia, mas com a sua força elétrica, comunicativa, espiritualista e sonambúlica, força que todo ser superior possui em si mesmo e que toca ao mesmo tempo o coração e o cérebro.
A adivinhação era o maior dom de Jesus, como eu o disse recentemente (o Espírito fazia alusão a uma outra comunicação). Estando destinados a se tornarem superiores, como Espíritos, pecamos a Deus uma parte dos raios que concede a certos seres privilegiados, que ma concedeu a mim mesmo, e que pude distribuir mais santamente.
MESMER.
Nota. Não há uma única das faculdades concedidas ao homem da qual não possa abusar em virtude de seu livre arbítrio; não é a faculdade que é má em si, é o uso que dela se faz. Se os homens fossem bons, não haveria nenhuma delas a temer, porque ninguém delas se serviria para o mal. No estado de inferioridade em que os homens ainda estão na Terra, a penetração do pensamento, se ela fosse geral, seria sem dúvida uma das mais perigosas, porque se tem muito a esconder, e muitos podem abusar. Mas quaisquer que sejam os inconvenientes, se ela existe, é um fato que precisa ser aceito de bom ou malgrado, uma vez que não se pode suprimir um efeito natural. Mas Deus, que é soberanamente bom, mede a extensão dessa faculdade à nossa fraqueza; no-la mostra, de tempos em tempos, para melhor nos fazer compreender a nossa essência espiritual, e nos advertir para trabalhar pela nossa depuração para não termos do que temer.
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