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sexta-feira, 19 de setembro de 2014
Educação para a Morte
"A ideia cristã da morte, sustentada e defendida pelas diversas igrejas, é simplesmente aterradora. Os pecadores ao morrer se vêm diante de um Tribunal Divino que os condena a suplícios eternos. Os santos e os beatos não escapam às condenações, não obstante a misericórdia de Deus, que não sabemos como pode ser misericordioso com tanta impiedade. As próprias crianças inocentes, que não tiveram tempo de pecar, vão para o Limbo misterioso e sombrio, pela simples falta do batismo. Os criminosos broncos, ignorantes e todo o fosso da espécie humana são atirados nas garras de Satanás, um anjo decaído que só não encarna o mal porque não deve ter carne."
"Desconhecendo a complexidade do processo da vida, o homem terreno sempre se apegou, principalmente nas civilizações ocidentais, ao conceito negativo da morte como frustração total de todas as possibilidades humanas."
"A Educação para a Morte não é nenhuma forma de preparação religiosa para a conquista do Céu. É um processo educacional que tende a ajustar os educandos à realidade da Vida, que não consiste apenas no viver, mas também no existir e no transcender*. A vida e a morte constituem os limites da existência. Entre o primeiro grito da criança ao nascer e o último suspiro do velho ao morrer, temos a consciência do ser e do seu destino.* As plantas e os animais vivem simplesmente, deixam-se levar na correnteza da vivência, entregues às forças naturais do tropismo e dos instintos.
...Mas a criatura humana é um ser definido, que reflete o mundo na sua consciência e se ajusta a ele, não para nele permanecer, mas para conquistá-lo, tirar dele o suco das experiências possíveis e transcendê-lo, ou seja, passar além dele."
"Seria estranho, e até mesmo irônico que, num Universo em que nada se perde, tudo se transforma, o homem fosse a única exceção perecível, sujeito a desaparecer com os seus despojos."
"O homem é imortal. Ao morrer na Terra, transfere-se para os planos de matéria mais sutil e rarefeita, em que continua a viver com mais liberdade e maiores possibilidades de realizações, certamente inconcebíveis aos que ficam no plano terreno."
"A mente não é física e por meios não físicos age sobre a matéria, O cérebro é simplesmente o instrumento de manifestação da mente no plano físico. Isso equivale a dizer que o homem é espírito e não apenas um organismo biológico."
"É preciso que não nos esqueçamos deste ponto importante: os homens são espíritos e os espíritos nada mais são do que homens libertos das injunções da matéria. "
"...Desta maneira, mortos e vivos somos todos. Revezamo-nos na Terra e no Espaço porque a lei de evolução exige o nosso aprimoramento contínuo. Se no plano espiritual os limites de nossas potencialidades de aprendizado se esgotam, por falta de desenvolvimento dos potenciais anímicos, retornamos às duras experiências terrenas. A reencarnação é uma exigência do nosso atraso evolutivo, como a semeadura da semente na terra é a exigência básica da sua germinação e do seu crescimento. Assim, nascimento e morte são fenômenos naturais da vida, que não devemos confundir com desgraça ou castigo. Só os homens matam para vingar-se ou cobrar dívidas afetivas. Deus não mata, cria."
"A ideia trágica da morte sobrevive em nosso tempo, apesar do avanço das Ciências e do desenvolvimento geral da Cultura. Há milhões de anos morremos e ainda não aprendemos que vida e morte são ocorrências naturais. E as religiões da morte, que vampirescamente vivem dos gordos rendimentos das celebrações fúnebres e das rezas indefinidamente pagas pelos familiares e amigos dos mortos, empenham-se num combate contra os que pesquisam e revelam o verdadeiro sentido da morte. A ideia fixa de que a morte é o fim, e o terror das condenações de após morte, sustentam esse comércio necrófago em todo o mundo. Contra esse comércio simoníaco é necessário desenvolver-se a Educação para a morte que, restabelecendo a naturalidade do fenômeno dará aos homens a visão consoladora e cheia de esperanças reais da continuidade natural da vida nas dimensões espirituais, e a certeza dos retornos através do processo biológico da reencarnação, claramente ensinado nos próprios Evangelhos*. Conhecendo o mecanismo da vida, em que nascimento e morte se revezam incessantemente, os instintos de morte e seus impulsos criminosos irão se atenuando até desaparecerem por completo. Os desejos malsãos de extinsão da vida, que originam os suicídios, os assassinatos e as guerras, tenderão a se transformarem nos instintos da vida. A esperança e a confiança em Deus, bem como a confiança na vida e nas leis naturais, criarão um novo clima no planeta, hoje devastado pelo desespero humano*. O medo e o desespero desaparecerão com o esclarecimento racional e científico do mistério da morte, esse enigma que a ressurreição de Jesus e os seus ensinos, bem como os do Apóstolo Paulo, já deviam ter esclarecido há dois mil anos."
José Herculano Pires
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