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terça-feira, 18 de novembro de 2014

A água das lágrimas... Seu gosto é amargo, mas tem a propriedade de fazer que os homens Me recordem. A lenda das lágrimas



Contam as lendas que, quando o Criador concluiu a Sua obra, dividiu-a em departamentos e os confiou aos cuidados dos anjos.

Após algum tempo, o Todo Poderoso resolveu fazer uma avaliação da Sua Criação e convocou os servidores para uma reunião.

O primeiro a falar foi o Anjo das Luzes. Postou-se respeitosamente diante do Criador e lhe falou com entusiasmo:

Senhor, todas as claridades que criastes para a Terra continuam refletindo as bênçãos da Vossa misericórdia.

O sol ilumina os dias terrenos com os resplendores divinos, vitalizando todas as coisas da natureza e repartindo com elas o seu calor e a sua energia.

Deus abençoou o Anjo das Luzes, concedendo-lhe a faculdade de multiplicá-las na face do mundo.

Depois foi a vez do Anjo da Terra e das Águas, que exclamou com alegria:

Senhor, sobre o mundo que criastes, a Terra continua alimentando fartamente todas as criaturas. Todos os reinos da natureza retiram dela os tesouros sagrados da vida.

E as águas, que parecem constituir o sangue bendito da Vossa obra terrena, circulam no seio imenso, cantando as suas glórias.

O Criador agradeceu as palavras do servidor fiel, abençoando-lhe os trabalhos.

Em seguida, falou radiante, o Anjo das Árvores e das Flores.

Senhor, a missão que concedestes aos vegetais da Terra vem sendo cumprida com sublime dedicação.

As árvores oferecem sua sombra, seus frutos e utilidades a todas as criaturas, como braços misericordiosos do Vosso amor paternal, estendidos sobre o solo do planeta.

Logo após falou o Anjo dos Animais, apresentando a Deus seu relato sincero.

Os animais terrestres, Senhor, sabem respeitar as Vossas leis, acatar a Vossa vontade.

Todos têm a sua missão a cumprir, e alguns se colocam ao lado do homem, para ajudá-lo. As aves enfeitam os ares e alegram a todos com suas melodias admiráveis, louvando a sabedoria do seu Criador.

Deus, jubiloso, abençoou Seu mensageiro, derramando-lhe vibrações de agradecimento.

Foi quando chegou a vez do Anjo dos Homens. Angustiado e cabisbaixo, provocando a admiração dos demais, exclamou com tristeza:

Senhor, ai de mim! Enquanto meus companheiros falam da grandeza com que são executados Seus decretos na face da Terra, não posso afirmar o mesmo dos homens...

Os seres humanos se perdem num labirinto formado por eles mesmos. Dentro do seu livre-arbítrio criam todos os motivos de infelicidade.

Inventaram a chamada propriedade sobre os bens que lhes pertencem inteiramente, e dão curso ao egoísmo e à ambição pelo domínio e pela posse.

Esqueceram-se totalmente do seu Criador e vivem se digladiando.

Deus, percebendo que o Anjo não conseguia mais falar porque sua voz estava embargada pelas lágrimas, falou docemente:

Essa situação será remediada. E, alçando as mãos generosas, fez nascer, ali mesmo no céu, um curso de águas cristalinas e, enchendo um cântaro com essas pérolas líquidas, entregou-o ao servidor, dizendo:

Volta à Terra e derrama no coração de Meus filhos este líquido celeste, a que chamarás água das lágrimas... Seu gosto é amargo, mas tem a propriedade de fazer que os homens Me recordem, lembrando-se da Minha misericórdia paternal.

Se eles sofrem e se desesperam pela posse efêmera das coisas da Terra, é porque Me esqueceram, olvidando sua origem divina.

E, desde esse dia, o Anjo dos Homens derrama na alma atormentada e aflita da Humanidade, a água bendita das lágrimas remissoras.


A lenda encerra uma grande verdade: cada criatura humana, no momento dos seus prantos e amarguras, recorda, instintivamente, a paternidade de Deus e as alvoradas divinas da vida espiritual.


 baseado,  no cap. 22 do livro Crônicas de além túmulo, pelo Espírito Humberto de Campos, psicografia de Francisco Cândido Xavier

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