Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.
Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer?
João 3:3-4
«Voltar a nascer não significa regressar ao ponto de partida e começar, outra vez, tudo do zero. A publicidade tenta enganar-nos, garantindo-nos que é possível. Mas a realidade desmascara-lhe a falsidade.
Nicodemos de oitenta anos não voltará a ser Nicodemos de oito. Os ponteiros da vida não param. O que se viveu não se anula, não se apaga, nem é ideal de vida viver fazendo de conta que se vive. Ao mesmo tempo, o melhor também não é necessariamente o que ficou para trás, tal como a pele lisa do bebé e as suas mãos mimosas não são mais belas do que o rosto enrugado ou as mãos deformadas de um ancião. A beleza da vida também se diz nas marcas que assinalam o corpo, este lugar de memória. (...)
Se, como disse alguém, «o verdadeiro paraíso não é, nunca é [...] aquele perdido, mas o reencontrado», o verdadeiro nascimento será aquele que não cessa de gerar e de trazer à vida. Da velhice do coração e da mente, à infância do afeto e da imaginação. Da rigidez e do torpor dos gestos, ao estilo de vida leve e gracioso. Da conquista, a todo o custo, da terra e do céu, do tempo e dos lugares, do conhecimento das coisas e do apreço dos demais, ao reconhecimento feliz de que «a rosa é sem porquê, floresce porque floresce», «não se preocupa consigo mesma, não procura nada ser vista», como disse tão bem A. Silesius.
A infância desejável tem que ver com este ambiente vital das coisas simples, o colo materno da confiança, a experiência de ser acolhido, acudido e, por isso, de poder arriscar o caminho do bem, de ousar viver bem, não sem uma certa ingenuidade e espírito lúdico, precisamente, da criança.
Tão gratos e tão implicados, chegaremos, assim, a nascer, não cessando de renascer pela vida que se aceita, uma e outra vez, receber-se de outro. Adultos, reaprenderemos a arte de recomeçar, como crianças.»
Pe. José Frazão Correia,
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